O que fazer?

Defendemos que não devemos ficar indiferentes diante deste desenvolvimento de dimensões catastróficas. Especialmente as comunidades dos falantes e seus descendentes sentem os danos irreparáveis. Nas palavras de Bruna Franchetto:

“A agonia e a morte de uma língua resulta em sérios danos à saúde intelectual de seu povo, a suas tradições orais, suas formas artísticas (poesia, música, oratória), seu conhecimento, sua ontologia e perspectiva cosmológica.”

A comunidade mundial dos linguistas se deu conta sistematicamente de que as línguas estão desaparecendo cada vez mais rapidamente somente no início dos anos noventa do século XX. A documentação linguística surgiu neste contexto: pelo menos podemos tentar documentar algo destas línguas para preservar sua memória para gerações futuras, e talvez contribuiremos em alguns casos com isto para sua manutenção.

O que pode e precisa ser feito a nível nacional:

  • Conhecer melhor a situação das línguas – levantamento (critérios UNESCO), sua identificação (no censo brasileiro de 2010 foi incluída uma questão sobre as línguas indígenas faladas pelas pessoas que se identificaram como indígenas)
  • Reconhecer as línguas como patrimônio e assumir a tarefa de protegê-las – há projetos pilotos para um levantamento nacional das línguas indígenas organizado pelo IPHAN. O Inventário Nacional da Diversidade Linguística do Brasil foi estabelecido com Política Pública, através de Decreto Presidencial em 09 de dezembro de 2010
  • Apoiar a pesquisa e centros regionais
  • Investir na formação de linguistas, incluindo linguistas indígenas (cf. Maria Pankararu)
  • Incentivar o uso de métodos de revitalização linguística desenvolvidos mundialmente, tais como:

1.    Ninho de Linguagem: crianças pequenas (que aprendem línguas sem esforço) passam tempo com os avôs, que falam somente a língua materna.
2.    Mestre e Aprendiz: um falante assume a responsabilidade de ensinar a língua a um jovem.
3.    Imersão: durante um certo período a comunidade ou uma parte da comunidade fala somente na língua e os não falantes têm de adquirir um mínimo de fluência na língua para se comunicar.
4.    Alfabetização na Língua Materna: materiais escritos na língua geralmente aumentam o prestígio da mesma e chamam a atenção da geração mais jovem.
5.    Gravações de Documentação: músicas, narrativas tradicionais e outros materiais podem ser gravados e devolvidos à comunidade para familiarizar os ouvintes, especialmente os jovens, com a língua e com as tradições.

O que o podemos fazer:

  • Conscientizar os falantes das línguas indígenas e outros sobre a situação e discutir opções
  • Auxiliar o desenvolvimento de uma política linguística:
    • Ajudar estabelecer a língua na educação
    • Desenvolver a escrita, materiais didáticos
    • Identificar domínios a serem (re)tomados
  • Documentar as línguas e culturas > daí o investimento na documentação linguística e a criação deste portal.