O Brasil é um país com uma grande diversidade linguística: falam-se no Brasil não somente o Português Brasileiro e várias outras línguas trazidas por imigrantes, mas também provavelmente cerca de 150 línguas indígenas. Isto pode parecer muito, e de fato só existe mais ou menos uma dúzia de países no mundo que têm mais línguas. Mas é bem provável que o Brasil, e toda a América do Sul, tenham tido muito mais línguas, talvez até oito vezes mais, 500 anos atrás, na época do primeiro contato com os Europeus.
Muitas vezes se fala nas línguas indígenas como “gíria” ou “dialetos”, o que usualmente implica que estes idiomas seriam menos desenvolvidos, inferiores, menos valiosos do que “línguas verdadeiras”. Essas idéias são preconceitos sem fundamento. Os especialistas em línguas, os linguistas, sabem muito bem que não existem línguas menos completas ou valiosas que outras — todas as línguas são línguas plenas, com gramáticas e vocabulários elaborados e adaptados ao contexto cultural em que a língua é usada. Na linguística, o termo “dialeto” designa uma variedade, especialmente geográfica, de uma língua, sem implicações sobre sua complexidade. Assim, o Português falado no Brasil e o Português falado em Portugal são dois dialetos maiores da língua portuguesa, que por sua vez podem ter vários dialetos menores.
Usando estes conceitos, as línguas indígenas não são “dialetos”, mas sim, línguas plenas, independentes, completas. É verdade que algumas delas tenham, por sua vez, dialetos, um pouco diferentes entre si, mas ainda próximos o suficiente para que seus falantes se comuniquem sem maiores dificuldades e sem ter que aprender o idioma do outro.
A contagem das línguas indígenas no Brasil é complicada porque línguas indígenas, como religiões indígenas ou grupos indígenas, não necessariamente têm autodenominações, fato que pode produzir confusão entre línguas, dialetos, grupos e subgrupos. Também nomes de línguas ou variedades são frequentemente criados e perpetuados sem ter critérios explícitos para reconhecer variações como dialetos da mesma língua ou sem ter informações seguras sobre o grau de inteligibilidade mútua das línguas ou dialetos em questão. Finalmente, há vários grupos indígenas que vivem sem contato com a sociedade nacional e podem falar outras línguas, ainda desconhecidas.
As línguas são o componente e o veículo mais importante das culturas indígenas — cada língua reflete experiência acumulada da comunidade de seus falantes e é perfeitamente adaptada às suas necessidades ambientais, sociais, culturais, espirituais etc.
Uma boa fonte sobre a localização, o número de falantes e a situação das línguas do Brasil (e do Mundo) é o atlas de línguas ameaçadas da UNESCO. http://www.unesco.org/culture/languages-atlas
Uma página brasileira que informa sobre as línguas e sua história está no site do Instituto Socioambiental: Línguas Indígenas no Site do ISA. No mesmo site do ISA sobre os Povos Indígenas no Brasil há informações sobre todos os povos indígenas do Brasil, inclusive sobre suas línguas.
As seguintes páginas dão uma boa introdução sobre os assuntos mencionados nesta página: Introdução às línguas indígenas no site do programa ProDoc.